Fachada do Educandário Ituiutabano, meados dos anos de 1960 |
1 – Quanto à
movimentação da escola.
O Grupo Escolar
de Ituiutaba foi instalado no Educandário Ituiutabano, em 1958, para oferecer o
Curso Primário, e era estadual. Já no primeiro ano de funcionamento, contou com
mais de 600 matrículas, formando dez classes. Possuiu como diretora a memorável
senhora Nair Gomes Muniz, a Dona Nair, que atuou no Educandário e após, com a
extinção da escola, conseguiu continuar em prédio próprio passando o grupo a se
chamar Escola Estadual Ituiutaba, hoje atual Escola Estadual Arthur Junqueira
de Almeida.
O Educandário
ofereceu o Curso Ginasial de forma gratuita, apesar de não possuir recursos
próprios. Assim, os professores eram voluntários, havendo poucos que recebiam
uma pequena ajuda em forma de salário. O diretor Ângelo Tibúrcio D’Avila atuou
entre 1958 e 1959, afastando-se por motivo de mudança. Então, o professor Paulo
dos Santos, vindo da cidade de Uberaba, assumiu o cargo até 1973, data em que
encerramos nossa pesquisa. Prosseguiu a escola até 1978, mas pelo que
encontramos na documentação e entrevistas, nesse período final, estava
desconectada da sua proposta inicial e sem a presença do Professor Paulo e a
filosofia que a consagrou, a escola foi extinta.
O professor Paulo
dos Santos juntamente com o Conselho Diretor da Escola, formado pelos membros
da UMEI, ainda abriram o Curso Normal, em 1965, e o curso Técnico em
Contabilidade, em 1967.
Também, em 1967,
foi criada a Creche Espírita Josefina de Magalhães, que passou a funcionar
dentro do Educandário. Essa foi a primeira creche de Ituiutaba, já constatando
a preocupação que o Professor Paulo possuia pela criança desvalida. A Creche
ganhou prédio próprio cedido pelo senhor Jacó, com a saída de Paulo dos Santos
do Educandário.
O Educandário foi a grande
referência de escola inclusiva em Ituiutaba. Além de estar aberto a todos os alunos
carentes de Ituiutaba e da região, recebia alunos com variados problemas, tanto
sociais como morais. Possuía pequenas casas no fundo da escola, que recebia
alunos que vinham das fazendas e também servia à professores. O grande
articulador desse projeto foi sem dúvida o professor Paulo dos Santos. A escola
também contava com o professor de português Carlos Borges, deficiente visual. O
professor Paulo dos Santos efetuou um trabalho muito próximo ao realizado por
Eurípedes Barsanulfo, que fundou a primeira escola espírita do Brasil, o
Colégio Allan Kardec, em Sacramento, Minas Gerais. No Educandário não se falava
em religião alguma, sequer havia aulas de Ensino Religioso que ensinasse essa
ou aquela religião, mas a filosofia da escola e consequentemente suas práticas
educacionais, eram direcionadas a movimentos mais democráticos e liberais, bem
ao gosto da filosofia espírita, calcada nos pressupostos pedagógicos de Rousseau e Pestalozzi. Constatamos ainda grande
número de alunos, provindos das escolas particulares da cidade, que passaram a
se matricular no Educandário, quando suas matrículas eram recusadas por motivo
de indisciplina. O professor Paulo dos Santos acolhia a todos, apenas com a
ressalva aos pais: “Seu filho precisa apenas trazer uma carteira, pois a escola
não possui!”
3 - À época, foi um
empreendimento ousado? Por que?
Construir o Educandário foi uma ação
inovadora na cidade, quiçá no Brasil. Porém o trabalho efetivado na escola pelo
professor Paulo dos Santos, foi uma grande “ousadia” educacional, se assim
podemos dizer. Ele fez o trabalho de Civilidade acontecer, coisa que
pouquíssimas experiências educativas no mundo conseguiram, conforme ressaltou a
Professora Doutora Maria Teresa Santos Cunha, da UDESC, de Santa Catarina,
membro da minha banca de defesa. O Professor Paulo conseguiu realizar um
sistema de cooperação e formação de lideranças estudantis, dentro da escola,
fantástico. Os alunos tomavam conta da limpeza, do jardim e auxiliavam
sobremaneira nas campanhas ininterruptas para manutenção da escola. Ainda
formavam grupos ligados ao teatro, ao canto coral, aos esportes, à fanfarra, e
ainda a outras atividades, sendo os desfiles de 7 de Setembro memoráveis e a
apresentação da fanfarra algo que ficou na mente dos ituiutabanos. Havia aulas
investigativas do cerrado mineiro, chamadas pelos alunos de “pic-niques”, algo
inovador pela forma com que eram realizadas. Fora o trabalho filantrópico que
ele mantinha ligado às famílias, educação moral dos alunos e conseqüente
inclusão desses alunos no mercado de trabalho da cidade. Uma experiência
notável e que ficou esquecida na cidade.
4 - Após cinquenta anos, na
sua opinião quais foram os grandes marcos do Educandário?
Sem dúvida, a contribuição para
formação educacional dos jovens e também dos adultos que voltaram para a
escola. O Educandário não apenas instruiu alunos, mas proporcionou a formação
moral que as pessoas necessitam. O lema do professor Paulo dos Santos era
“Vencer na vida pelo estudo e pelo trabalho!”. E isso ele conseguiu implantar
na mentalidade daquelas gerações que passaram por lá e que hoje são
profissionais liberais em nossa cidade, professores e pais de família
responsáveis.
5 - Por que você resolveu
pesquisar esse assunto?
O Educandário chamou-me atenção, por
todos esses fatos narrados. Ainda é um caso a ser mais estudado, pois as
práticas desenvolvidas lá necessitam ser divulgadas para contribuir com a
educação hoje, em nossa cidade. Mas principalmente pela necessidade de
reacender na memória de Ituiutaba, o trabalho efetivado pelo Professor Paulo
dos Santos. Ninguém na cidade sabe que o Bairro Novo Tempo II leva o nome dele,
por que isso não é divulgado. Pedimos ao nosso Prefeito e Vereadores que
revejam isso e divulguem o nome correto do Bairro. E também pedimos aos nossos
lideres que nomeiem uma escola com o nome desse grande mestre. Gurinhatá possui
a praça em frente a Escola Estadual e a Loja Maçônica, batizadas com o nome de
Paulo dos Santos, que lá fundou o Ginásio de Gurinhatã. Ainda é tempo dos
nossos líderes acudirem ao esquecimento.
Nicola José Frattari Neto - 2014
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