terça-feira, 4 de março de 2014

Educandário Ituiutabano, ainda mais sobre.

Fachada do Educandário Ituiutabano, meados dos anos de 1960
 
1 – Quanto à movimentação da escola.

            O Grupo Escolar de Ituiutaba foi instalado no Educandário Ituiutabano, em 1958, para oferecer o Curso Primário, e era estadual. Já no primeiro ano de funcionamento, contou com mais de 600 matrículas, formando dez classes. Possuiu como diretora a memorável senhora Nair Gomes Muniz, a Dona Nair, que atuou no Educandário e após, com a extinção da escola, conseguiu continuar em prédio próprio passando o grupo a se chamar Escola Estadual Ituiutaba, hoje atual Escola Estadual Arthur Junqueira de Almeida.

            O Educandário ofereceu o Curso Ginasial de forma gratuita, apesar de não possuir recursos próprios. Assim, os professores eram voluntários, havendo poucos que recebiam uma pequena ajuda em forma de salário. O diretor Ângelo Tibúrcio D’Avila atuou entre 1958 e 1959, afastando-se por motivo de mudança. Então, o professor Paulo dos Santos, vindo da cidade de Uberaba, assumiu o cargo até 1973, data em que encerramos nossa pesquisa. Prosseguiu a escola até 1978, mas pelo que encontramos na documentação e entrevistas, nesse período final, estava desconectada da sua proposta inicial e sem a presença do Professor Paulo e a filosofia que a consagrou, a escola foi extinta.

            O professor Paulo dos Santos juntamente com o Conselho Diretor da Escola, formado pelos membros da UMEI, ainda abriram o Curso Normal, em 1965, e o curso Técnico em Contabilidade, em 1967.

            Também, em 1967, foi criada a Creche Espírita Josefina de Magalhães, que passou a funcionar dentro do Educandário. Essa foi a primeira creche de Ituiutaba, já constatando a preocupação que o Professor Paulo possuia pela criança desvalida. A Creche ganhou prédio próprio cedido pelo senhor Jacó, com a saída de Paulo dos Santos do Educandário.
 

 2 - Por que o Educandário se tornou uma escola inclusiva?

            O Educandário foi a grande referência de escola inclusiva em Ituiutaba. Além de estar aberto a todos os alunos carentes de Ituiutaba e da região, recebia alunos com variados problemas, tanto sociais como morais. Possuía pequenas casas no fundo da escola, que recebia alunos que vinham das fazendas e também servia à professores. O grande articulador desse projeto foi sem dúvida o professor Paulo dos Santos. A escola também contava com o professor de português Carlos Borges, deficiente visual. O professor Paulo dos Santos efetuou um trabalho muito próximo ao realizado por Eurípedes Barsanulfo, que fundou a primeira escola espírita do Brasil, o Colégio Allan Kardec, em Sacramento, Minas Gerais. No Educandário não se falava em religião alguma, sequer havia aulas de Ensino Religioso que ensinasse essa ou aquela religião, mas a filosofia da escola e consequentemente suas práticas educacionais, eram direcionadas a movimentos mais democráticos e liberais, bem ao gosto da filosofia espírita, calcada nos pressupostos pedagógicos de Rousseau e Pestalozzi. Constatamos ainda grande número de alunos, provindos das escolas particulares da cidade, que passaram a se matricular no Educandário, quando suas matrículas eram recusadas por motivo de indisciplina. O professor Paulo dos Santos acolhia a todos, apenas com a ressalva aos pais: “Seu filho precisa apenas trazer uma carteira, pois a escola não possui!”
 

3 - À época, foi um empreendimento ousado? Por que?

            Construir o Educandário foi uma ação inovadora na cidade, quiçá no Brasil. Porém o trabalho efetivado na escola pelo professor Paulo dos Santos, foi uma grande “ousadia” educacional, se assim podemos dizer. Ele fez o trabalho de Civilidade acontecer, coisa que pouquíssimas experiências educativas no mundo conseguiram, conforme ressaltou a Professora Doutora Maria Teresa Santos Cunha, da UDESC, de Santa Catarina, membro da minha banca de defesa. O Professor Paulo conseguiu realizar um sistema de cooperação e formação de lideranças estudantis, dentro da escola, fantástico. Os alunos tomavam conta da limpeza, do jardim e auxiliavam sobremaneira nas campanhas ininterruptas para manutenção da escola. Ainda formavam grupos ligados ao teatro, ao canto coral, aos esportes, à fanfarra, e ainda a outras atividades, sendo os desfiles de 7 de Setembro memoráveis e a apresentação da fanfarra algo que ficou na mente dos ituiutabanos. Havia aulas investigativas do cerrado mineiro, chamadas pelos alunos de “pic-niques”, algo inovador pela forma com que eram realizadas. Fora o trabalho filantrópico que ele mantinha ligado às famílias, educação moral dos alunos e conseqüente inclusão desses alunos no mercado de trabalho da cidade. Uma experiência notável e que ficou esquecida na cidade.

 
4 - Após cinquenta anos, na sua opinião quais foram os grandes marcos do Educandário?

            Sem dúvida, a contribuição para formação educacional dos jovens e também dos adultos que voltaram para a escola. O Educandário não apenas instruiu alunos, mas proporcionou a formação moral que as pessoas necessitam. O lema do professor Paulo dos Santos era “Vencer na vida pelo estudo e pelo trabalho!”. E isso ele conseguiu implantar na mentalidade daquelas gerações que passaram por lá e que hoje são profissionais liberais em nossa cidade, professores e pais de família responsáveis.


5 - Por que você resolveu pesquisar esse assunto?

 
            O Educandário chamou-me atenção, por todos esses fatos narrados. Ainda é um caso a ser mais estudado, pois as práticas desenvolvidas lá necessitam ser divulgadas para contribuir com a educação hoje, em nossa cidade. Mas principalmente pela necessidade de reacender na memória de Ituiutaba, o trabalho efetivado pelo Professor Paulo dos Santos. Ninguém na cidade sabe que o Bairro Novo Tempo II leva o nome dele, por que isso não é divulgado. Pedimos ao nosso Prefeito e Vereadores que revejam isso e divulguem o nome correto do Bairro. E também pedimos aos nossos lideres que nomeiem uma escola com o nome desse grande mestre. Gurinhatá possui a praça em frente a Escola Estadual e a Loja Maçônica, batizadas com o nome de Paulo dos Santos, que lá fundou o Ginásio de Gurinhatã. Ainda é tempo dos nossos líderes acudirem ao esquecimento.

Nicola José Frattari Neto - 2014

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